Um Porto para Anna Bella

ANNA BELLA GEIGER burocracia

Anna Bella Geiger se debruçou sobre a Região Portuária para fazer seu “mapa invisível” do Rio. Porta de entrada de todos os estrangeiros, caminho da cidade para o encontro com o diverso e o outro, o Porto reunia elementos que se casavam perfeitamente com a obra da artista, que sempre teve nos mapas e na geografia duas de suas inquietudes.

Local: Zona Portuária com águas do mar é um trabalho inédito feito especialmente para a exposição. Une uma imensa gravura desenrolada a partir de uma bobina de papel, com 5 metros de largura, e um vídeo, que será encaixado na própria extensão da imagem gráfica e projetado em um pequeno aparelho, idêntico ao usado para DVD e GPS em alguns táxis cariocas.

Anna Bella partiu do texto bíblico em hebraico, que ainda não sintetiza a palavra “oceano” e usa “águas do mar” para definir as águas salgadas. Mesclando imagens de origens diversas, ela sobrepõe visões reais e inventadas de regiões de Baía – como a que mostra a de San Francisco sendo invadida por discos voadores – para falar do Porto como começo e recomeço, como criação.

Descendente de imigrantes, como boa parte dos cariocas, Anna Bella também volta às próprias origens judaicas ao mergulhar nesta porta de entrada não só da cidade, mas da formação de uma identidade coletiva. Ao sobrevoar as paisagens portuárias, ela repete uma operação muito comum ao longo de sua trajetória: se distancia do mapa, apresentando-o como se estivesse do alto de uma grua, de um avião ou mesmo de um satélite. Depois disso, mergulha nele e faz o reconhecimento e a fundação. Atraca, enfim, neste novo território, como alguém que chega ao cais e se reabastece para novas odisseias.

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